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  • Jessé Souza: Direita e religião souberam manipular a raiva dos pobres
    Oct 19 2024

    Por que eleitores pobres que votaram em Lula e Dilma em quatro eleições seguidas passaram a dar vitórias à direita? O sociólogo Jessé Souza tenta responder a essa questão em seu mais recente livro, o recém-lançado "O Pobre de Direita: A Vingança dos Bastardos" (Civilização Brasileira).

    Jessé, entrevistado deste episódio, divide essa classe empobrecida de eleitores em dois grupos: o pobre branco de São Paulo e do sul do Brasil e o negro evangélico. Em comum, ambos manifestam repúdio pela esquerda, por políticas de inclusão de grupos marginalizados e por programas como o Bolsa Família. Guardam, entretanto, diferenças significativas, que remetem às desigualdades do país, avalia ele.

    Na entrevista, Jessé também comenta o segundo turno em São Paulo, diz que o PT deveria aprender com Getúlio Vargas e argumenta que a esquerda em geral afasta eleitores ao dar protagonismo a pautas identitárias.

    • Produção e apresentação: Marco Rodrigo Almeida
    • Edição de som: Raphael Concli

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    44 mins
  • Daniel Santini: Direita hoje vê tarifa zero como solução
    Oct 5 2024

    Quando as manifestações de Junho de 2013 estouraram, era fácil situar politicamente a defesa da gratuidade no transporte coletivo: o movimento estava ligado à esquerda.

    Dez anos depois, tudo mudou. O número de cidades brasileiras com tarifa zero universal passou de 19 em 2013 para 116 em 2024, e a maioria delas é governada por partidos de direita.

    Esse cenário é analisado por Daniel Santini no recém-lançado "Sem Catraca: da Utopia à Realidade da Tarifa Zero". Para o autor, a pandemia de Covid-19 escancarou que o transporte coletivo está colapsando no país.

    Neste episódio, ele afirma que mesmo uma política de gratuidade mal desenhada é melhor que o modelo atual, baseado na receita das catracas, e se contrapõe às críticas que qualificam a tarifa zero como algo irrealizável.

    • Ouça também: Junho de 2013 tornou passe livre um debate possível, diz Roberto Andrés
    • Produção e apresentação: Eduardo Sombini
    • Edição de som: Raphael Concli

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    52 mins
  • Ronilso Pacheco: Extrema direita usa gramática religiosa em projeto de radicalização
    Sep 14 2024

    A Igreja foi uma peça fundamental do colonialismo europeu e da escravização de africanos, mas a espiritualidade cristã pode se comprometer com um projeto de emancipação.

    Esse é o horizonte de "Teologia Negra: o Sopro Antirracista do Espírito", de Ronilso Pacheco, publicado em 2019 e relançado neste mês. Para Pacheco, a teologia não deve continuar a ser vista como uma área de estudo puramente especulativa, sem contato com a realidade social. Em vez disso, ele defende que se considere que a teologia nasceu no deserto, referência à jornada de libertação narrada no Êxodo.

    A religiosidade, nessa perspectiva, vem da experiência concreta da opressão —e a teologia negra, além de ressaltar as raízes africanas de acontecimentos e personagens bíblicos, disputa a própria ideia de uma espiritualidade universal, desvinculada da história dos povos.

    Pacheco é mestre em teologia pela Universidade Columbia, diretor do Iser (Instituto de Estudos da Religião), pastor auxiliar da Comunidade Batista e colunista do UOL. Na entrevista, ele afirma que a representação de Jesus como homem branco contribuiu para legitimar a escravidão e reverbera até hoje, por exemplo, na intolerância contra religiões de matriz africana.

    O pesquisador discute os riscos do nacionalismo cristão, movimento de extrema direita que, em sua avaliação, usa uma gramática religiosa para subjugar a sociedade a um cristianismo conservador, e aborda as perspectivas de organização política nesse contexto.

    • Produção e apresentação: Eduardo Sombini
    • Edição de som: Raphael Concli

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    48 mins
  • Marcelo Viana: Avanço da IA desafia ideia de superioridade humana
    Aug 31 2024

    Em 1611, Johannes Kepler apontou que organizar laranjas como os feirantes fazem hoje em dia —em arranjos hexagonais e camadas sobrepostas— era a melhor forma de aproveitar o espaço disponível. O astrônomo e matemático alemão, no entanto, não conseguiu provar essa conjectura na época e o problema só foi de fato resolvido em 2017, mais de 400 anos depois.

    Tanto tempo para tão pouco, muitas pessoas podem pensar. Afinal, que diferença isso faz?

    Em "Histórias da Matemática: da Contagem nos Dedos à Inteligência Artificial" (Tinta-da-China Brasil), Marcelo Viana mostra que até as pesquisas mais teóricas podem dar origem a novas tecnologias, mesmo que, em alguns casos, isso demore vários séculos.

    O pesquisador escreve que o problema do empacotamento de esferas (o exemplo das laranjas) ajuda hoje a detectar e corrigir erros de transmissão de informações e que pesquisas sobre números primos foram fundamentais para desenvolver a criptografia moderna, além de lembrar os desdobramentos na astronomia e na física, por exemplo, viabilizados pela matemática.

    Não que a utilidade imediata deva ser o único critério da ciência, diz Viana, diretor-geral do Impa (Instituto de Matemática Pura e Aplicada), no Rio de Janeiro, um dos mais renomados centros de investigação matemática do mundo, mas pesquisadores não devem perder de vista as consequências concretas dos seus estudos.

    "Histórias da Matemática" reúne, em edição revista e atualizada, colunas publicadas na Folha, onde Viana escreve desde 2017.

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    42 mins
  • Ligia Diniz: Ficção também deveria fetichizar corpos masculinos
    Aug 17 2024

    Se a leitura de um romance é uma espécie de alucinação —em que a pessoa que lê experimenta a vida de personagens—, quantas vezes as mulheres alucinaram ser homens?

    Esse é um dos pontos de partida de "O Homem Não Existe: Masculinidade, Desejo e Ficção" (Zahar), de Ligia Gonçalves Diniz, crítica literária e professora da UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais).

    No livro, a autora discute como essa alucinação, movida pela hegemonia masculina na literatura, molda a subjetividade das mulheres. Em primeiro lugar, Diniz questiona de que forma ler como um homem por tanto tempo influenciou como ela própria se vê no mundo.

    A pesquisadora busca ultrapassar os termos usuais da equação de gênero, discutindo como obras de ficção incorporam obsessões fálicas e narrativas elogiosas de homens em fúria.

    Na entrevista, Diniz insiste ser essencial trazer a noção de corpo para esse debate e defende que escritores misóginos e obras machistas não deixem de ser lidos, por permitirem, entre outros motivos, conhecer os opressores por dentro.

    • Produção e apresentação: Eduardo Sombini
    • Edição de som: Raphael Concli

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    44 mins
  • Paolo Demuru: Conspirações seduzem por oferecer encanto
    Aug 3 2024

    Não é incomum que, depois de ver uma fake news ser desmentida, o que permaneça reverberando seja a própria informação falsa. Para Paolo Demuru, esse efeito mostra que tentar enfrentar a desinformação e narrativas conspiratórias usando só dados objetivos e argumentos racionais não é suficiente.

    Professor da Universidade Presbiteriana Mackenzie, Demuru discute em "Políticas do Encanto" os mecanismos do conspiracionismo e como as forças progressistas podem lidar com esse fenômeno.

    O autor aponta que fantasias de conspiração, além de oferecer explicações simples para problemas assustadores, permitem que as pessoas encontrem um propósito e se sintam parte de uma comunidade. Em outras palavras, proporcionam maravilhamento em um mundo competitivo e individualista.

    Neste episódio, Demuru debate a atitude preponderante em boa parte da esquerda hoje —que, por não se desvencilhar do que ele chama de supremacismo da razão, acaba se comportando como uma estraga festa.

    Para o pesquisador, recorrer à indignação só funciona até certo ponto: se quiser construir maiorias, a esquerda precisa apostar na esperança, disputar o encanto e usar o entusiasmo para engajar as pessoas.

    • Produção e apresentação: Eduardo Sombini
    • Edição de som: Raphael Concli

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    48 mins
  • Camilo Rocha: Música eletrônica combinou contracultura e elitização
    Jul 20 2024

    A história de São Paulo é entremeada com a história da cena de música eletrônica da cidade.

    Camilo Rocha defende a ideia em "Bate-estaca", livro que registra as transformações da noite e da própria São Paulo desde o fim dos anos 1980, quando DJs deixaram de ser figuras quase desconhecidas, gêneros como house e techno tomaram as pistas e o movimento clubber ganhou força na cidade.

    O autor é, ao mesmo tempo, observador e participante da história que narra: DJ e jornalista, Rocha acompanhou as mudanças dos sons e dos comportamentos na noite paulistana, as marcas da desigualdade de São Paulo nesse universo cultural e a explosão das raves nas proximidades da capital.

    Também assistiu à hiperfragmentação e a elitização da música eletrônica que levaram à decadência da cena em São Paulo na metade dos anos 2000.

    Na entrevista, Rocha fala sobre os clubes underground que ajudaram a projetar drag queens ao mainstream da cultura brasileira e a oferecer espaços de socialização a pessoas LGBTQIA+ e das fricções entre utopias filiadas à contracultura e o impulso de sucesso comercial que permeiam essa história.

    • Produção e apresentação: Eduardo Sombini
    • Edição de som: Raphael Concli
    • Este episódio inclui a faixa "Gimme Fantasy", do DJ Mr. Gil

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    40 mins
  • Natalia Viana: Sem Assange e WikiLeaks, não teria havido Vaza Jato e Lula 3
    Jul 6 2024

    Natalia Viana tinha acabado de conhecer Julian Assange, em novembro de 2010, quando recebeu dele o recado em um papel: "Não fale uma palavra".

    A jornalista brasileira viajou para Londres sem saber quase nada sobre o projeto em que acabaria se envolvendo, mas logo se deu conta do alcance e dos riscos do que Assange e o WikiLeaks estavam planejando: a divulgação de 250 mil telegramas de embaixadas dos Estados Unidos.

    No recém-lançado "O Vazamento", a autora apresenta um balanço dessa experiência, que marcou a sua trajetória e mudou os rumos da sua carreira —bem como transformou o jornalismo nos anos 2010 e influenciou negociações diplomáticas e protestos populares ao redor do mundo.

    O livro transporta os leitores para o casarão, no interior da Inglaterra, em que a equipe se isolou antes da divulgação dos documentos e retrata a personalidade de Assange, registrando atitudes machistas e sua postura controladora, ao mesmo tempo que reconhece sua grandeza como figura histórica.

    O fundador do WikiLeaks passou os últimos 12 anos privado de liberdade. No fim de junho, ele se declarou culpado, como parte de um acordo para ser libertado, de uma acusação baseada na Lei de Espionagem dos EUA.

    Neste episódio, a jornalista diz que esse desfecho cria um precedente que ameaça o trabalho de jornalistas investigativos em todo o mundo e critica o uso, nos EUA, da ideia de segurança nacional para deslegitimar a publicação de documentos confidenciais de interesse público e apagar da história iniciativas como o WikiLeaks.

    • Produção e apresentação: Eduardo Sombini
    • Edição de som: Raphael Concli

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    44 mins