A cantora e compositora pernambucana Madu chegou em Portugal em 2019 para cursar letras, na Universidade de Lisboa. Mas a sua vida foi preenchida com a música. A academia não lhe encheu os olhos e, com a pandemia do novo coronavírus, voltou a fazer o que mais gosta: cantar e compor canções. Acompanhada sempre pelo violão de Ely Janovelli, paraibano e estudante do doutorado em composição musical, que encontrou a cantora em uma reunião de amigos.
O mundo perdeu uma professora para ganhar uma artista de múltiplas facetas. A música Contratempo foi a primeira que ela escreveu e que, de fato, gostou. Ela admite que compunha desde pequena, mas em inglês, porque tinha vergonha de escrever em português e se julgava mal ao cantar.
A vinda para Portugal a fez perder aquilo que a limitava: “Me despedi de julgamentos, comecei a escrever. Compus Contratempo numa noite de inverno muito fria”, relembra. Para Madu, essa música faz com que as pessoas que moram em terras lusitanas se identifiquem com ela, porque traduz o que é ser imigrante, por passar muitos contratempos na vida.
A pernambucana reconhece que sua primeira canção é triste. “Eu gosto de fazer músicas que a gente possa chorar dançando. Tem todo esse movimento legal, é uma música importante na minha vida”, ressalta. Ela acrescenta que, a partir de suas composições, foi entendendo que seu lugar era mesmo no palco.
Ely, o violonista, declara que sua formação mais instrumental sempre fez parte do mundo da academia e do mundo popular. Foi nas ruas de Lisboa que ele e Madu convergiram e criaram a canção Gabriela.
Madu explica: “Nós nos encontramos porque temos amigos em comum e, na verdade, eles planejaram nos juntar, eu não sabia. Ely tinha acabado de chegar a Portugal e queria uma compositora para acompanhar além do doutorado dele. Os dois foram a um jantar. De início, ele ficou calado, mas, depois de uma esticada em um bar, viram que tinham muito em comum e não se largaram mais. Paraíba e Pernambuco finalmente se juntaram em Portugal.
Vários lançamentos musicais da dupla vão acontecer ainda neste ano. “Almejo continuar meu trabalho, reforçando a cultura pernambucana, nordestina, dentro do contexto europeu. Quero expandir meu trabalho para fora de Portugal”, afirma Madu, que, depois de quase quatro anos distante de sua terra natal, retornou às origens. Foi uma enorme emoção para a menina que tinha medo de cantar.
Madu se traduz por completo em um poema: “Aqui não tem Olinda, linda pra andar, tampouco batuques de naná. Tem a bossa nossa no meio da rua, jazz ferve, mas não é frevo pra frevar. Axé pra dentro, sigo atenta ao ar 'calento', perto e longe da energia do folião, entendo. Nessa terra posso até ser colombina, mas sou mesmo é lampião”.
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